quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Juventude desidiossincrática

O principal ponto que norteia as relações interpessoais e sociais hoje em dia é a exibição. Um estado de alienação que toma conta da nossa sociedade de maneira tão hiperbólica que as pessoas chegam a ter "vidas" onde não há problemas como: doença, trabalho, família, namoro e uma serie de outras coisas que fazem parte do cotidiano de qualquer individuo.

Essa situação fica muito explícita nas relações entre grupos de adolescentes, em que muitas vezes o contato é feito entre Orkut, MSN, e-mail e vários outros aplicativos tecnológicos que permeiam a sociedade contemporânea.

Quando se acessa o perfil de um(a) adolescente, o que se vê é alguem que vive cercado por amigos, vai em festas badaladas, etc. Em nenhum momento, alguém que entra nesse perfil qustiona se aquele(a) jovem que aparece na tela do computador encara dilemas pessoais e se realmente se sente o tempo todo cercado por amigos, ou se tudo não passa de uma ilusão passageira em momentâneas "farras" entre conhecidos. E isso o fará desenvolver - se inseguro quanto ao mundo que o cerca, e sobre o que é, de fato, um relacionamento interpessoal.

É nisso que, em seu estado de "exibição" das pessoas no ato de ocultar suas idiossincrasias e mostrar à sociedade apenas o que esta considerar aceitavel. Não é à toa qu em seus perfis, façam uso do photoshop tentando ocultar suas espinhas, manchas de pele e outras "aberrações" que são capazes de excluir qualquer adolescente de um grupo de amigos.

Possivelmente, por ser fruto de uma sociedade em que tudo se torna obsoleto num piscar de olhos, os jovens da geração atual sejam alienados e escondam o que realmente sentem e pensam, tornando - se assim o produto de uma sociedade hipócrita e capitalista, na qual só a aparência governa o relacionamento entre as pessoas.

sábado, 19 de setembro de 2009

Catar feijão - João Cabral de Melo Neto

Catar feijão se limita com escrever:
Jogam-se os grãos na água do alguidar
E as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.

2.

Ora, nesse catar feijão entra um, risco
o de que entre os grão pesados entre
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com risco

domingo, 6 de setembro de 2009

Não te amo mais - Clarice Lispector

Não te amo mais
Estarei mentindo dizendo que
Ainda te quero com sempre quis
Tenh certeza que
Nada foi em vão
Sinto dentro de mim que
Você não significa nada
Não poderia mais dizer que
Já te esqueci!
E jamais usarei a frase
Eu te amo!
Sinto mas tenho que dizer a verdade
É tarde demais...

Figuras de linguagem presentes na poesia

Metáfora:

É importante porque confere à poesia um outro sentido completamente diferente daquele que as palavras realmente significam, exigindo do leitor uma atenta interpretação do poema

Ironia:

Julgo a ironia importante porque a encontro em muitas das poesias que leio e geralmente a encontro muto bem empregada, me fazendo refletir de forma crítica sobre algum acontecimento do dia-a-dia.

Hipérbole:

Creio que essa figura de linguagem anda de mãos dadas com a ironia na escrita poética. A sensação que ela me causa é a de uma viagem de sentidos, que altera completamente a minha percepção.

Palavras - chave de escolas literárias

Classicismo:

Renascimento; prosa; Camões; Os Lusíadas; Era clássica da literatura portuguesa.

Quinhentismo:

século XVI; colonização portuguesa; José de Anchieta

Barroco:

Boca do Inferno; sátira; dualismo; hipérbole

Arcadismo:

natureza; simplicidade; bucolismo; Arcádia; fugere urbem

A dualidade humana no conto "A igreja do diabo"

As pessoas estão sempre em busca de algo que as satisfaça, isso não significa que elas tenham que recorrer à algo "mau" para que possam realizar isso. É o que fica bem claro no conto de Machado de Assis. O diabo decide fundar uma igreja, com todas as suas normas e regras, em certo ponto da história ele descobre que seus "fiéis" estão descumprindo seus preceitos religiosos, dando esmolas a pobres, guardando dias santos. Via ter uma conversa com Deus e este diz tratar - se da eterna contradição humana.

Trechos irônicos do conto "A igreja do diabo"

"Embora os seus lucros fossem contínuos e grandes, sentia - se humilhado com o papel avulso que exercia desde séculos, sem organização, sem regras, sem canônes, sem ritual, sem nada."

"Recolhei primeiro esse bom velho; dai - lhe o melhor lugar, mandai que as mais afinadas cítaras e alaúdes o recebam com os mais divinos coros..."

"Nada mais curioso, por exemplo, do que a definição que ele dava da fraude. Chamava - lhe o braço esquerdo do homem; o braço direito era a força; e concluía: Muitos homens são canhotos, eis tudo. Ora, ele não exigia que todos fossem canhotos; não era exclusivista. Que uns fossem canhotos, outros destros; aceitava atodos, menos os que não fossem nada."

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Foreign (Estrangeiro)

O dicionário Aurélio descreve xenofobia como aversão a pessoas e coisas estrangeiras. Em diversas ocasiões na História, um povo para dominar outro, fazia com que este se desapropriasse da sua cultura, aí incluindo: sua música, sua literatura, sua culinária e, fatalmente sua língua.


Ora, sabemos que para a real integração entre as diversas nações, é necessário que várias culturas se miscigenem, completando assim as partes de um todo, e perceber que a cultura do outro não é melhor nem pior que a minha.

Se na variedade de conteúdo que encontramos na internet, encontramos estrangeirismos, é porque determinada informação foi transmitida a outros países com palavras dificilmente "traduzíveis".

É cabível lembrar também que nenhuma tradução é fiel ao seu sentido original, daí expressões como "high - tech" ou "design" perderem parte do seu sentido se traduzidas para outra língua.

Deve - se lembrar também que qualquer tentativa de manipular o que a imprensa transmite, é um atentado contra a liberdade de expressão, que é assegurada pela Constituição Federal, a imprensa tem o livre arbítrio - nem sempre tão bem utilizado - para escrever o que quiser, é claro, sem ferir os direitos individuais de cada um.

Chega até a ser risório que, caso a lei Aldo Rebelo seja aprovada, que a população deixará de usar estrangeirismos. Imagine uma dona de casa indo ao supermercado para comprar um sabonete LUX e se deparar com a palavra LUXO entre parênteses do lado.

Não devemos também esquecer que nenhuma língua é dona de si, ela é uma mistura com várias outras línguas surgidas antes. Por isso, a Língua Portuguesa não é só nossa. Também é nossa. Pois no seu desenvolvimento a cada neologismo que aparece é o resultado do contato com outras línguas, e isso se aplica a qualquer idioma do mundo.

É uma pena que o demasiado ufanismo de alguns, tente se sobrepor à interação entre os povos, já que qualquer tentativa de colocar parênteses ao lado de um estrangeirismo não vai interferir na comunicação oral entre a população. O que evita que as pessoas pratiquem a xenofobia, citada no início desse texto.

domingo, 12 de julho de 2009

Resumo de citação de "Dias de sombra, dias de luz

"Será que somos uma aberração coletiva apelidada de nação?"



"É nosso dever ético condenar e procurar mudar,por todos os meios possíveis, regimes socioeconomicos que favoreçam a formação moral de pessoas sem consciência do que seja crueldade."



"Esse é um dos efeitos mais nocivos da anomia cultiral: suportar a dúvida de estar sendo simultaneamente, injusto com a vítia e com o algoz."



"Mas agir e pensar com justiça não é questão de tomar partido; é questão de experimentação sócio moral."



"Polícia sem cidadania e sem reforma urbana é o mesmo que nada."



"De um lado, o arcaico senhoriato empresarial político brasileiro empenhou - se em fabricar uma caricatura dos mais pobres como um bando de deslassificados indolentes, reprodutores irresponsáveis de criaturas que não sabem como alimentar e educar, e que, por isso mesmo, não merecem viver na mesma cidade que eles; de outro, porque boa parte dos que tem poder de agir na esfera pública e criticam essa concepção indigna do povo brasileiro demitiu -se por cansaço ou decepção, da tarefa de formar elite comprometida com um projrto de nação."

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Entre luvas e tutus

O longa metragem Billy Elliot demonstra uma sensibilidade muito grande ao tratar das relações masculino/feminino, em meio ao periodo de greves dos mineradores que houve na Inglaterra na segunda metade do século XX.

Num primeiro momento, nós vemos um pré - adolescente num ambiente costumeiramente masculino: um ringue de boxe. Observando a ação do garoto, podemos perceber que ele se sente deslocado nesse local.

Em contraponto a isso, vemos que por ironia, o mesmo local passa a ser utilizado provisoriamente para serem dadas aulas de balé. Uma fronteira delimitada apenas por um biombo, que é logo facilmente transposta por Billy.

Já no universo do balé, o personagem se sente como se fosse outra pessoa, ele dança junto com o ritmo da música, como se ela sempre estivesse estado ali, no seu interior, esperando por um estímulo externo para ser despertada.

No decorrer do filme, surgem os conflitos de outros personagens, como o fanatismo do irmão pelos direitos trabalhistas, os devaneios da avó sobre como poderia ter sido sua vida, a descoberta da sexualidade por parte da filha da professora, a orientação sexual do seu melhor amigo, a extrema solidão em que a senhorita Winkinson se encontrava... o filme mostra tudo isso de maneira muito consistente e elaborada, não à toa foi indicado ao Oscar® de melhor roteiro original.

A trilha sonora do filme é também muito bem elaborada, sendo muito bem relacionada com a fotografia, algumas vezes sendo lenta, demonstrando a angustia da professora de balé e outras vezes sendo eufórica, quando são exibidas imagens rápidas de Billy ensaiando balé e de seu irmão fugindo da policia, formando uma sequência arrebatadora em que "todo mundo entra na dança".

Em meio a tudo isso, há a historia da senhora Winkinson - belissimamente interpretada pela atriz Julie Walters, que foi indicada ao Oscar® de melhor atriz coadjuvante - podemos ver uma mulher irrealizada no casamento, que ironiza qualquer situação de felicidade e torna, juntamente com seu marido, sua filha infeliz.

Retornando ao tema principal, a certo ponto da trama, o pai do personagem central fica a par de que o filho está praticando balé, em contrapartida aos filhos de seus amigos, que estão aprendendo a lutar boxe. Há nessa situação um conflito de "meninos vestem azul, meninas vestem rosa" em que o balé praticado por homens é tratado como "coisa de bicha".

Isso remonta ao nosso dia-a-dia, em que os homens estão "presos" e não podem dançar, o que causa um grande prejuízo com relação ao convivio em sociedade. A dança é um meio utilizado pelo ser humano para se expressar e nos faz ter respeito pelo corpo do outro.

Repetidas vezes vemos talentos serem desperdiçados em diversas áreas por puro preconceito. E é o que nesse caso acontece: Billy Elliot é um garoto com um alto potencial e tem a oportunidade de aperfeiçoar-se na dança, ingressando na Academia Royal Ballet, em Londres. Mas, num primeiro momento é impedido pelo estereótipo que está arraigado aos homens que dançam balé. E numa noite, em que Billy está dançando e é flagrado pelo pai, ele o enfrenta e mostra sua desenvoltura na arte de dançar, e acaba convencendo seu pai a tentar uma vaga na Academia através de uma linguagem não verbal: a linguagem do ritmo.

Mas para conseguir custear a viagem até Londres, o pai precisa ir contra a sua ideologia: furar a greve. E é nesse ponto que ele entra em conflito com seu filho mais velho. Furar a greve significa abrir mão de tudo aquilo que os mineradores reivindicavam e se passar em meio aos seus amigos por um traidor.

Uma trama excelententemente bem conduzida por Stephen Daldry, em seu primeiro trabalho no cinema, uma obra prima que fala de valores entre familia e o trabalho. E principalmente perseguir os nossos ideais, lutando contra o preconceito.

Resumo crítico de " Dias de sombra, dias de luz"

O Brasil vive uma escalada da violência urbana desorientadora. Será que somos uma aberração coletiva apelidada de nação? Será que somos uma civilização sem amanhã? Criamos uma sociedade inconsequente que se vê a braços com o pior efeito da inconsequência humana: a carnificina monstruosa, na qual crianças matam crianças, sem se dar conta da imoralidade do que estão fazendo.

É nosso dever ético condenar e procurar mudar, por todos os meios possíveis, regimes socioeconomicos que favoreçam a formação moral de pessoas sem consciência do que seja crueldade.

Vir a público falar do que sentimos em momentos de comoção moral e intelectual significa confessar o pecado leigo da lesa razão!

sábado, 27 de junho de 2009

Metáforas do morro

O livro começa desde o início a causar questionamentos: será Marquinhos, a quem o livro é dedicado, um agente do tráfico que teve o destino - dito pela sabedoria popular - igual ao de todo traficante, o de morrer jovem? Ou será Marquinhos um jovem vítima de uma bala perdida, causada pelo acirramento entre traficantes e policiais?


Na nota do autor, é percebido o sacrifício feito por ele para que pudesse concluir o livro "a gente não pode se dar ao luxo de pensar em fracassar", é o que ele diz. Isso serve como metáfora para os sonhos da população pobre, a falacia da midia dizendo que quem quer consegue, para que o proletariado se mantenha no seu lugar produzindo a riqueza da classe dominante. Mais à frente, ele diz que que foi a única, de todas as pessoas da periferia, a aparecer viva em determinado jornal, ironizando outro aspecto da midia que é o de que em uma favela só existe prostituição, bandidagem, pessoas que se contentam com a miséria, que jogam seu lixo à céu aberto, que mantém vícios e que se mantém silenciosa, com relação aos traficantes, e ainda mais, será que os habitantes das favelas só interessam à imprensa quando estão mortos?


Há também um recado para o "Querido sistema" como se fosse um prenuncio de que haverá um dia em que a empregada, mãe de seis filhos e moradora de favela irá se rebelar.


Outro fato que aparece é a televisão. A televisão no livro,tem a função de ser um calmante diário para a classe pobre do país, ocupando o papel de antagonista da sociedade brasileira. É através dela e só através dela, que os pobres podem se ver numa realidade melhor, e outra discussão que aparece também é a da violência e do sexo que aparecem na midia, pondo em jogo que seja este o principal responsavel pela violência e erotização dos adolescentes e não, como a propria "vilã" procra transmitir, o funk.


Ainda no aspecto da midia, vemos que os signos da televisão são passados para os personagens de maneira muito simbólica. Como o personagem que recebe o nome de Chapolin e os bordões utilizados por alguns personagens como a expressão "do pântano".


Em certo momento no desenrolar da historia, é dito que naquela hora, não estava passando na televisão nada que prestasse. Outra ironia que surge no texto e nos faz perguntar: "Em algum momento, a televisão exibe algo que presta?


Há uma relação de metáfora também entre a televisão/salario mínimo/aprisionamento mental. A escravatura acabou, mas para compensá-la, o sistema cria a televisão e o salario minimo para manter uma minoria sociológica sob seu dominio, formando uma neo escravatura.


O livro demonstra também uma preocupação muito importante com relação ao que está por trás das coisas que fazem parte do nosso cotidiano. O rico só pode comprar um carro importado. porque explorou a força de trabalho de um pobre. Deslocando a classe favorecida socioeconomicamente de seu status imponente para revelar que o que eles possuem depende da subserviência da classe oprimida.


O personagem Matcherros, a certo ponto do livro diz que nunca será um "Robocop" do governo,referindo-se ao exame da Policia Militar.


Em outra parte, um personagem é assassinado e percebe-se o descaso das autoridades com a população, em que cidadãos morrem em filas de hospitais e isso nada representa para o governo.
Também surge o candomblé com o seu sincretismo religioso com o catolicismo, visto que o pai de santo cita três divindades cristãs: Pai, filho e Espírito Santo. Uma herança herdada dos tempos de senzala.


Sobre a religião há também uma crítica a uma afirmação bastante controversa da Igreja Católica, por mostrar um Jesus loiro, incompativel com seu local de origem. E também é posto em dúvida se o céu dos cristãos seria um lugar de igualdade, já que, por ser uma construção humana, e a sociedade se dividir em classes sociais, no céu seria diferente.


Aparece também a "Maria", aqela mulher que é explorada no trabalho e tratado com indiferença pelos patrões, assim como há outras milhares de "Marias" no Brasil.


Em uma passagem do livro, Rael diz: "Bom dia Capão! Bom dia, Vietnã!" mostrando que a favela é um local onde se presencia a guerra todos os dias, seja porque há garotos tornando- se traficantes que, por sua vez, se tornam estatísitcas de assasssinatos nas periferias, ou porque um pai ou uma mãe tem que ser humilhado diariamente para não perder o emprego.


A policia aparece como uma traidora da ordem pública, que deveria "proteger" os cidadãos honestos dos "bandidos traficantes" mas que na verdade, compactuam com estes, em troca de propina, tal qual seus superiores: a elite.


Os personagens, frequentemente, usam discursos impregnados de ideologia religiosa como "se Deus permitir", "da trairagem nem Jesus escapou" e "seDeus é por nóis, quem será contra nóis". Talvez procurando acreditar que há algo melhor do que o que eles vivem, que eles podem ter um destino melhor que o da páginas policiais e para isso se refugiem nas suas crenças.


Tio Chico, se espanta com a "grandeza" física" da Igreja Universal do Reino de Deus, mas o que está realmente por detrás disso é que o bispo Edir Macêdo, tira dinheiro dos seus fiéis, vive em meio ao luxo, e prega para os seguidores pobres de sua igreja uma mensagem de "Deus é amor".
Num parágrafo, há a metáfora entre correr atrás de uma pipa e correr atrás de um sonho. Mostrando o quão alto a pipa/sonho está e o tremendo esforço que temos de fazer para conseguir alcançá-la, o que não acontece na maioria da vezes.


Capão Pecado é um livro que nos faz refletir não apenas na favela, como também na classe pobre brasileira em geral, pois os "metódos" utilizados pela elite para oprimir o pobre, são os mesmos dentro ou fora da favela.E que nossa sociedade se conscientize em busca da igualdade social.

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Fábula de Millôr Fernandes

A RAPOSA E O CACHO DE UVAS


Uma raposa faminta, ao ver cachos de uva suspensos em uma parreira, quis pegá-los, mas não conseguiu. Então, afastou-se dela, dizendo: “Estão verdes.”
Assim também, alguns homens, não conseguindo realizar seus negócios por incapacidade, acusam as circunstâncias.
Esopo

Texto II
A RAPOSA E AS UVAS


De repente a raposa, esfomeada e gulosa, fome de quatro dias e gula de todos os tempos, saiu do areal do deserto e caiu na sombra deliciosa do parreiral que descia por um precipício a perder de vista. Olhou e viu, além de tudo, à altura de um salto, cachos de uvas maravilhosos, uvas grandes, tentadoras. Armou o salto, retesou o corpo, saltou, o focinho passou a um palmo das uvas. Caiu, tentou de novo, não conseguiu. Descansou, encolheu mais o corpo, deu tudo o que tinha, não conseguiu nem roçar as uvas gordas e redondas. Desistiu, dizendo entre dentes, com raiva: “Ah, também, não tem importância. Estão muito verdes.” E foi descendo, com cuidado, quando viu à sua frente uma pedra enorme. Com esforço empurrou a pedra até o local em que estavam os cachos de uva, trepou na pedra, perigosamente, pois o terreno era irregular e havia risco de despencar, esticou a pata e... Conseguiu! Com avidez colocou na boca quase o cacho inteiro. E cuspiu. Realmente as uvas estavam muito verdes!

MORAL: A FRUSTRAÇÃO É UMA FORMA DE JULGAMENTO TÃO BOA COMO QUALQUER OUTRA.

terça-feira, 9 de junho de 2009

O gigolô das palavras - Luís Fernando Veríssimo

Quatro ou cinco grupos diferentes de alunos do Farroupilha estiveram lá em casa numa mesma missão, designada por seu professor de Português: saber se eu considerava o estudo da Gramática indispensável para aprender e usar a nossa ou qualquer outra língua. Cada grupo portava seu gravador cassete, certamente o instrumento vital da pedagogia moderna, e andava arrecadando opiniões. Suspeitei de saída que o tal professor lia esta coluna, se descabelava diariamente com suas afrontas às leis da língua, e aproveitava aquela oportunidade para me desmascarar. Já estava até preparando, às pressas, minha defesa ("Culpa da revisão! Culpa da revisão !"). Mas os alunos desfizeram o equívoco antes que ele se criasse. Eles mesmos tinham escolhido os nomes a serem entrevistados. Vocês têm certeza que não pegaram o Veríssimo errado? Não. Então vamos em frente.


Respondi que a linguagem, qualquer linguagem, é um meio de comunicação e que deve ser julgada exclusivamente como tal. Respeitadas algumas regras básicas da Gramática, para evitar os vexames mais gritantes, as outras são dispensáveis. A sintaxe é uma questão de uso, não de princípios. Escrever bem é escrever claro, não necessariamente certo. Por exemplo: dizer "escrever claro" não é certo mas é claro, certo? O importante é comunicar. (E quando possível surpreender, iluminar, divertir, mover... Mas aí entramos na área do talento, que também não tem nada a ver com Gramática.) A Gramática é o esqueleto da língua. Só predomina nas línguas mortas, e aí é de interesse restrito a necrólogos e professores de Latim, gente em geral pouco comunicativa. Aquela sombria gravidade que a gente nota nas fotografias em grupo dos membros da Academia Brasileira de Letras é de reprovação pelo Português ainda estar vivo. Eles só estão esperando, fardados, que o Português morra para poderem carregar o caixão e escrever sua autópsia definitiva. É o esqueleto que nos traz de pé, certo, mas ele não informa nada, como a Gramática é a estrutura da língua mas sozinha não diz nada, não tem futuro. As múmias conversam entre si em Gramática pura.


Claro que eu não disse isso tudo para meus entrevistadores. E adverti que minha implicância com a Gramática na certa se devia à minha pouca intimidade com ela. Sempre fui péssimo em Português. Mas - isso eu disse - vejam vocês, a intimidade com a Gramática é tão indispensável que eu ganho a vida escrevendo, apesar da minha total inocência na matéria. Sou um gigolô das palavras. Vivo às suas custas. E tenho com elas exemplar conduta de um cáften profissional. Abuso delas. Só uso as que eu conheço, as desconhecidas são perigosas e potencialmente traiçoeiras. Exijo submissão. Não raro, peço delas flexões inomináveis para satisfazer um gosto passageiro. Maltrato-as, sem dúvida. E jamais me deixo dominar por elas. Não me meto na sua vida particular. Não me interessa seu passado, suas origens, sua família nem o que outros já fizeram com elas. Se bem que não tenho o mínimo escrúpulo em roubá-las de outro, quando acho que vou ganhar com isto. As palavras, afinal, vivem na boca do povo. São faladíssimas. Algumas são de baixíssimo calão. Não merecem o mínimo respeito.


Um escritor que passasse a respeitar a intimidade gramatical das suas palavras seria tão ineficiente quanto um gigolô que se apaixonasse pelo seu plantel. Acabaria tratando-as com a deferência de um namorado ou a tediosa formalidade de um marido. A palavra seria a sua patroa ! Com que cuidados, com que temores e obséquios ele consentiria em sair com elas em público, alvo da impiedosa atenção dos lexicógrafos, etimologistas e colegas. Acabaria impotente, incapaz de uma conjunção. A Gramática precisa apanhar todos os dias pra saber quem é que manda.

segunda-feira, 25 de maio de 2009

Ebulição da escravatura - Luis Carlos de Oliveira

A área de serviço é senzala moderna,
Tem preta eclética, que sabe ler "start";
"Playground" era o terreiro a varrer.

Navio negreiro assemelha-se ao ônibus cheio,
Pelo cheiro vai assim até o fim-de-linha;
Não entra no novo quilombo da favela.

Capitão-do-mato virou cabo da polícia,
Seu cavalo tem giroflex ( rádio-patrulha).
"Os ferros", inoxidáveis algemas;

Ração pode ser o salário-mínimo,
Alforria só com a aposentadoria.(Lei dos sexagenários)

"Sinhô" hoje é empresário,
A casa-grande verticalizou-se,
O pilão está computadorizado.

Na última página são "flagrados" ( foto digital),
Em cuecas, segurando a bolsa e a automática
Matinal pelourinho.

A princesa Áurea canta,
Pastoreia suas flores.
O rei faz viaduto com seu codinome.

- Quantos negros? Quanto furor?
Tantos tambores...tantas cores...
O quê comparar com cada batida no tambor?*****"
- A escravatura não foi abolida; foi distribuída entre os pobres."

sábado, 18 de abril de 2009

As bodas de prata do Movimento de Luta pela Terra

A revista Veja vem mais uma vez difamando as classes proletárias, a fim de manipular a opinião pública do país e se conservar - e a seus colaboradores - no poder.


Há pouco tempo, A Veja publicou uma matéria em que declarava que os integrantes do Movimento de Luta pela Terra - MLT - falsificavam documentos afim de receber benefícios de programas governamentais, também acusava esse movimento de possuir membros que são ex presidiários - de batedores de carteira a estrupadores - e também de praticar táticas de guerrilha.


Em 24 de janeiro, o MLT completou vinte e cinco anos de existência, marcados por lutas, protestos, mortes, ocupaçãoes. Formados inicialmente por camponeses prejudicados pela lavoura de cacau no sul da Bahia.


Ora, se é sabido que os pequenos agricultores foram expulsos de suas terras por grandes latifundiários, largados à própria mercê, tendo que sustentar suas famílias e sem ter onde plantar. Esses camponeses se uniram e foram em busca de seus direitos, mas pouco adiantou, pois sabemos que a polícia age de acordo com a vontade de quem está no poder, e nisso reprime a voz dos protestantes, e tendo para isso muitos veículos de comunicação que os apoiam, como a própria revista Veja, a Rede Globo e tantas outras mídias capitalistas que mostram uma visão unilateral para conquistar seus interesses.


Esses fatos nos remetem aos tempos da ditadura militar, em que quando alguém protestava, era severamente reprimido e os comunistas eram tidos como criminosos, fugitivos da justiça e quando encontrados, torturados e levados à morte.


É também em nome de lutas passada que nós não devemos nos deixar oprimir e ir àluta e agir, para que essas bodas de prata não se tranformem em bodas de ouro.

Aos meus professores

Quero dizer que devo muito a vocês, das várias escolas em que estudei, conheci diversos professores que me ajudaram a crescer como ser humano, a ver o mundo, a ler, a escrever, enfim, devo muito do que sou hoje a vocês.


Devo agradecer à professora que guiou a minha mão no lápis, que me ensinou a reconhecer os símbolos que representam as letras do alfabeto e que não se cansava de ditar as palavras: "abecedário, bambolê, carro, dama, helicóptero, marionete, nariz" e tantas outras palavras que para mim eram um mundo novo.


Devo mostrar meu reconhecimento em especial aos meus professores de escola pública - ou seja, a maioria - até porque a educação no Brasil é algo tão difícil e complexo de se compreender, de se chegar a uma conclusão concreta sobre seus objetivos e ainda mais difícil de se passar da burocracia do MEC para a prática nas salas de aula, que realmente é uma vitória que estes professores com tão baixos salários e tão escassos recursos tecnológicos dêêm aulas para turmas com mais de quarenta alunos e que muitas vezes pela diferença de graus de aprendizagem de cada um, tenham que vagar com lentidão no assunto para que todos os alunos possam compreender.


Quero agradecer aos professores que me apoiaram, que me deram palavras de estímulo e confiança sempre atentos aos meus passos vacilantes.


E até mesmo aqueles professores com os quais eu não simpatizei - ou que não simpatizaram comigo - pois me fizeram sentir os pés firmes no chão e a encarar meus medos e desafios com toda a força possível.


Obrigado professores, vocês são os verdadeiros heróis desse país.

sábado, 7 de março de 2009

TUDO MUDO E SEM AÇÃO

TássioTelles

De mim, tudo só saiu isso.
Cabeça cheia que não transbordo.
Tanto a escrever que não consigo nem isso.
Com tudo, pelo menos o início.

Mas o início não é tudo.
Para o tudo tem a inspiração.
Pois sem ela tudo fica mudo,
Ficando tudo mudo, fica sem ação.

Para a inspiração só a paixão.
Por qualquer coisa que seja,
Basta abrir o coração.
Seu e nossos. E veja.

A inspiração,
A paixão,
O coração,
Nas letras.