segunda-feira, 25 de maio de 2009

Ebulição da escravatura - Luis Carlos de Oliveira

A área de serviço é senzala moderna,
Tem preta eclética, que sabe ler "start";
"Playground" era o terreiro a varrer.

Navio negreiro assemelha-se ao ônibus cheio,
Pelo cheiro vai assim até o fim-de-linha;
Não entra no novo quilombo da favela.

Capitão-do-mato virou cabo da polícia,
Seu cavalo tem giroflex ( rádio-patrulha).
"Os ferros", inoxidáveis algemas;

Ração pode ser o salário-mínimo,
Alforria só com a aposentadoria.(Lei dos sexagenários)

"Sinhô" hoje é empresário,
A casa-grande verticalizou-se,
O pilão está computadorizado.

Na última página são "flagrados" ( foto digital),
Em cuecas, segurando a bolsa e a automática
Matinal pelourinho.

A princesa Áurea canta,
Pastoreia suas flores.
O rei faz viaduto com seu codinome.

- Quantos negros? Quanto furor?
Tantos tambores...tantas cores...
O quê comparar com cada batida no tambor?*****"
- A escravatura não foi abolida; foi distribuída entre os pobres."